Foi na madrugada de sexta feira (24 de Março 2017) que o meu coração de mãe se partiu em mil pedaços.
Um dia normal, uma criança feliz, pais atarefados com trabalho, um dia que infelizmente não se proporcionou muita brincadeira, o nosso trabalho absorvia o nosso dia e cansados o pai deita a Carolina e a mãe ainda a termina o seu trabalho.
Eu subo para o quarto, falo um bocadinho com o pai que ensonado já só ouve metade, eu no meu ritmo normal antes de dormir tento fazer os meus agradecimentos, os tais que nunca conseguia terminar estava demasiado inquieta. Começo a ouvir um barulho, uma espécie de humm, o meu coração disparou e dizia que algo não estava bem, tão depressa sinto isto como já estou a entrar no quarto, meto a minha mão porque a minha visão com a diferença de luzes não via nada a frente, sinto algo humido, acendi imediatamente a luz da mesa de cabeceira, e vejo a minha filha toda vomitada, um corpo duro, olhos de lado e baba a cair pela boca, gritei, gritei com todas as minhas forças, a minha alma estava a morrer a cada segundo, julgei o pior, o marido vai ao quarto e pega nela que já esta ao meu colo, diz que está a respirar, eu tento reanimar, falo com ela, olho nos olhos dela, continua o olhar ausente e de lado, ligo para o 112, explico o que estou ver, após procedimentos esperamos o inem.
O INEM chega e estamos ali, a chorar como nunca na nossa vida, pedi a todos os santos e anjos para estarem com ela ali, pedi para trocar com ela, cada minuto daquele sufoco foram dias que perdi de vida.
Dizem que começa a reagir e que é uma convulsão, estivemos ali parados, tempo demais, jamais permito que isto aconteça.
Seguimos para o hospital, vou ao lado dela e a falar, continua o mesmo olhar mas mexendo os olhos, pedem para eu me acalmar porque ela sente tudo, mas como é que alguém se consegue acalmar perante este cenário?
Chegamos primeiro foi a picada da glicose e entra imediatamente para a sala de emergência, após a primeira aplicação da mediação e nenhuma alteração pedem para sairmos, estivemos ali a ver a entrar e sair médicos e enfermeiros, e nós os dois ali agarrados ás lágrimas, sem perceber o porque daquilo tudo, o sentimento de impotência começa a apoderar.
Após 3 tomas passa por completo (2 horas no total desde que a vi) e adormece, dizem que vão fazer uma TAC e dependendo do resultado que poderá ter de fazer uma pulsão , ela segue para a sala a dormir nem se apercebeu o que fizeram.
Entre análises e TAC estamos ali ao lado dela e sabemos que ambos estão bem, dizem que vão fazer a pulsão e que provavelmente ela iria chorar, pedem para sairmos e aqui entre lágrimas de pavor pelo exame eis que ela solta um "eu que o papá"," eu que que mamã", " "laga o meu baço", ela falou? ela falou meu deus.... entre muitas palavras e gritos dela mais um exame feito.
Seguimos para a sala de OBS e assim foi durante o dia de sexta, EEG feito para mais um despiste e estava ela ali monitorizada e a pedir-me para sair dali, queria tirar tudo, queria se levantar, foi tão mas tão difícil.
Após verem toda a evolução dela seguimos para o internamento e permanecemos até terça feira, apesar de algumas dores nas costas a evolução foi óptima, continua a mesma menina.
Estamos agora sobre vigilância e com muita fé que seja só um dos muitos casos isolados que acontecem ( sem explicação) ou epilepsia.
Isto mudou a nossa vida e não só, mudou a dos muitos amigos e familiares que estão conosco.
Aproveitem a vida e vivam um dia de cada vez, este é mais que nunca o nosso lema de vida.
No nosso coração fica um agradecimento enorme a todos os profissionais do Hospital de Gaia que foram maravilhosos, pelo profissionalismo, carinho, apoio e por estarem ali sempre e claro aos nossos amigos e familiares que nos ampararam que nos deram força, aos que nos abraçaram mesmo sem estarem presentes, aos que estiveram conosco.
A nossa familia está envolvida em amor, vocês são mesmo os melhores! Gratidão a vida por tudo, eu fui ao quarto dela e foi "só isto".